quinta-feira, 20 de agosto de 2009

20 de Agosto de 2009
DOPING: VALE A PENA? PDF Imprimir E-mail

As substâncias proibidas mais
usadas pelos ciclistas e seus efeitos

Por Marcos Adami

Quando se fala no assunto doping, os olhares se assustam, os semblantes se fecham e as pessoas desconversam... mas a verdade é que o uso de substâncias proibidas existe e muitos atletas já admitiram o seu uso.

Todos os anos acompanhamos casos - no Brasil e no mundo - de atletas que foram pegos em exame de anti-doping e foram punidos com severidade pela União Ciclística Internacional. Nomes famosos como Marco Pantani (foto), Richard Virenque, Tyler Hamilton, Filip Meirhaeghe e, mais recentemente, o espanhol Roberto Heras tiveram seus nomes maculados após fazerem uso de substâncias proibidas.

O professor Cláudio César Zoppi, doutor em Bioquímica do exercício do Labex (Laboratório de Bioquímica do Exercício da Unicamp), fala ao Bikemagazine sobre as substâncias proibidas mais usadas no esporte, seus efeitos e consequências para o atleta e revela alguns mitos.

As drogas se dividem em vários grupos e cada esporte, de acordo com suas características, tem as substâncias mais utilizadas. No ciclismo as mais comuns são a E.P.O e os esteróides anabolizantes.

COMO SE DIVIDEM

Estimulantes: As anfetaminas são as mais usadas. Elas aumentam a frequência cardíaca e estimulam o mecanismo produtor de energia, justamente por isso podem provocar parada cardíaca.

Beta-Bloqueadores: Inibe os receptores de adrenalina, baixando a frequência cardíaca. Muito utilizados em esportes de muita precisão como tiro olímpico e arco e flexa. Propanolol é uma delas.

Os hormônios: Os mais comuns são os derivados da testosterona, que é um hormônio anabólico andrógeno. Outros hormônios também usados são a insulina e mais recentemente está o hormônio do crescimento, conhecido como GH.

O que se busca com esses hormônios anabólicos é uma melhora na síntese protéica, visando, em última análise, aumentar a força.

Mas, segundo o Dr. Cláudio Zoppi, não existe nada cientificamente provado que demonstre ganho real de força com o uso desses hormônios sobretudo em indíviduos adultos.

"A insulina induz mais a síntese protéica que a testosterona", analisa Zoppi. "Não dá para saber se o Ben Johnson teria aquela grande performance sem o uso de esteróides ou não", afirma. "Muito do que vemos hoje nos estudos sobre a testosterona é empírico".

O hormônio cai na corrente sanguínea e se liga onde houver receptor para ele, é por isso que, em um indivíduo que toma hormônios à base de testosterona, os efeitos androgênicos se tornam visíveis: nascimento de pelos no corpo, engrossamento de voz, desenvolvimento da genitália, crescimento das mamas etc...

Os esteróides aumentam a retenção hídrica (por isso acontece um inchamento de líquido dos músculos). Com o passar do tempo podem induzir a um câncer hepático, pressão alta, queda de cabelos e muitos outros problemas.

Hormônio GH: Tem ao mesmo tempo as características anabólica* e catabólica**. Estimula degradação de gordura. Induz síntese protéica e quebra da gordura. O hormônio do crescimento realmente funciona na puberdade. Ele está presente também no adulto mas em quantidade menor, por isso quando usado no adulto o ganho de performance é pequeno.

O GH, quando usado em adolescentes, como foi largamente usado em nadadores nesses Jogos Olímpicos de Sydney, promove um crescimento abrupto dos ossos longos. No adulto faz crescer as extremidades dos membros como dedos, queixo, mãos, pés.

Eritropoietina ou E.P.O: A droga mais usada por ciclistas, triatletas, maratonistas e outros esportes de endurance. A EPO foi desenvolvida pela empresa norte-americana Amgen, em 1989, e desde seu lançamento a empresa já faturou US$ 27 bilhões com a droga.

A eritropoietina promove o aumento a síntese de glóbulos vermelhos, promovendo um maior transporte de oxigênio para as células. Na realidade, a substância foi criada para auxiliar no tratamento de doentes de câncer.

ALERTA

"O problema é o músculo conseguir utilizar todo este oxigênio", explica Cláudio Zoppi. "Mas no caso de atletas de alto nível, sua musculatura vai estar preparada para usar todo este combustível e transformá-lo em performance", completa. Com o seu uso, o atleta consegue uma capacidade de exercer uma intensidade de esforço maior, utilizando o mecanismo aeróbio como fonte de energia.

Cláudio tem uma opinião formada a respeito do doping: "É o atleta quem deve decidir se deve ou não tomar certas substâncias a ele indicada. Ele deve estar consciente dos riscos à saúde e optar por tomar ou não. Quando o comitê pega alguém, é porque tomou muito, pois as tolerâncias são extremamente altas, bem acima de níveis aceitáveis".

E Cláudio faz um alerta a pessoas frequentadoras de academia e obcecadas pela aparência pessoal: "Amadores, ao tomarem drogas para conseguirem um corpo bonito, estão jogando com a própria vida, vão ficar somente com a parte ruim das drogas. Se alguém não é profissional do esporte, não é candidato a medalha olímpica, vai tomar certas substâncias para quê? Estão jogando dinheiro e saúde fora", alerta.

SUPLEMENTOS, AMINOÁCIDOS E BALELAS

Ele ainda faz uma crítica e uma revelação: "Os Fat Burners na verdade deveriam se chamar Money Burners".

Segundo Cláudio Zoppi é comprovado cientificamente que a suplementação com carnitina não tem ação nenhuma, não bastasse isso, os Fat Burners têm anfetaminas em sua composição. "A carnitina não tem ação sobre a queima de lipídios", afirma. "As indústrias de suplementos alimentares para esportistas fazem milhões em cima disso", conclui.

Dos aminoácidos, suplementos alimentares muito em moda hoje em dia, Cláudio comenta que reconhece seus efeitos são sentidos em esportes de resistência (nos de força não!), pois o organismo os utiliza como fonte de energia. Mas denuncia: "Dizer que aminoácidos ajudam na recuperação e na fadiga é pura balela" e completa: "Para que gastar dinheiro com aminoácidos? Melhor consumir carboidratos, antes, durante e depois do treino". E ainda adverte: "O uso desmedido de aminoácidos pode induzir ao diabetes tipo II".

Quanto à creatina, que por enquanto também é um complemento alimentar, Cláudio afirma que ela aumenta a resistência anaeróbia, dando possibilidade de um maior esforço com intensidade maior no exercício. Dependendo do esporte ela é eficaz, mas seus efeitos bons e maus ainda são pouco estudados.

"Existe toda uma indústria por trás disso tudo, visando os atletas amadores e não os profissionais, já que esses além de serem a minoria dos esportistas, não precisam comprar nada disso, pois eles ganham isso dos patrocinadores", conclui.

*Anabólico: que induz síntese, protéica, por exemplo.
**Catabolíco: que induz quebra, degradação, de gordura por exemplo.

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